sexta-feira, 9 de março de 2012

Fui parar na Colômbia

 Iniciei a segunda parte da minha jornada, pisando com meus lindos sapatos vermelhos em território Colombiano.
A minha primeira impressão foi... fria. Saí do verão nordestino pra aterrisar a 2600 metros de altitude, onde a sensação térmica me fez sentir na pele o grande equívoco que aprendi  na escola. O de que os países próximos da Linha do Equador são quentes. Buenas, descobri que existem exceções, e a cidade de Bogotá é uma delas. Bogotá é sempre fria! Além disso,  chove muito ( pelo menos agora em janeiro/ fevereiro), e o sol nem sempre aparece. Isso me faz lembrar Londres, juntando o fato de que as construções e cores das mesmas, também são de fato muito semelhantes.
Estou aqui para fazer uma Residência Artística Internacional chamada “O corpo da organicidade”, com o diretor do Grupo Varasanta- Fernando Montes-
 Antes mesmo de saber que vinha para cá, havia me visto aqui...
Foi num sonho (os sonhos novamente)... Naquela noite, antes de dormir eu rezei, pedindo que pudesse encontrar sem demora, um caminho que me levasse a entrar em cena novamente, voltar a criar um trabalho artístico. Sonhei que estava em meio à enormes montanhas, e estava muito surpreendida com a beleza do local. Pensava comigo mesma: que lugar bonito! Nunca imaginei estar aqui! No sonho eu de fato não sabia que local era aquele
No dia seguinte eu recebo a informação desta residência artística, através da minha ex-aluna da faculdade, que agora era assistente do diretor da oficina.
Eu de fato nunca imaginava vir pra cá, nem sequer sabia que Bogotá era montanhosa. Apesar do fato de  ter ouvir muito falar desta terra... Isso desde quando era criança, pela narração das aventuras de minha mãe. Quando mais jovem, ela participava de um grupo de teatro – O Teatro Universitário independente de Santa Maria-  e o grande feito do grupo foi ter participado de um festival de teatro na Colômbia, onde foram elogiados por Pablo Neruda em “carne e osso”. Prega a “lenda”  que  ele comentou que havia achado um injustiça o grupo deles ter ficado em segundo lugar, neste tal festival, que era competitivo...
Enfim, agora caminhando pelas ruas daqui, tenho uma sensação esquisita, vejo as montanhas e constato que de fato já estive aqui... pelo menos em sonho...
Estou morando no Teatro Varasanta, que é também uma espécie de uma casa. Na real acho mais que é um casarão que tem um teatro... Estou com outros brasileiros que também se refugiam aqui para fazer a residência. Todos são pessoas muito especiais. Neste aspecto continuo me sentindo em Olinda, onde conheci pessoas incríveis e pude fazer muitas trocas. Em outros aspectos também minha estadia aqui me lembra Olinda... Um deles é a generosidade das pessoas. Pessoas desconhecidas, nas ruas, fazem questão de ajudar. Mais de uma vez me vi perdida aqui em Bogotá, e as pessoas acabaram desviando de seus caminhos para me conduzir ao lugar certo.
Outro aspecto é o fato de que continuo acordando todos os dias com música ao vivo!
Para minha benção, aqui no teatro, tem aulas de música todos os dias, então cada dia costumo acordar com um instrumento diferente: tambores, digiridum, clarinete... já em Olinda eram bateria, violão, pandeiros, alfaia, rabeca, flautas, trompete...
Olha, eu não gosto de acordar cedo, mas não podia reclamar de acordar com música às 7 da manhã...é tão bom. Até porque, quando podia voltar a dormir, conseguia fazer isso facilmente, mesmo com todo o barulho. A única vez que me irritei com a música foi num domingo de manhã em Olinda, as 8:20, depois de uma longa noitada do sábado à noite.  Resolveram tocar trompete bem na minha janela, a música era “Vassourinhas” a famosa música de frevo. Desta vez nem colocando tampão de ouvido eu conseguia parar de escutar, foi ali que percebi que o som do trompete é mesmo poderoso! Outra semelhança é que parece que cada dia vale por um mês de tanta experiência que tenho passado.
Mas voltando a Bogotá, eu fiquei com uma impressão de que a cidade parece mesmo muito européia. Talvez seja porque a localização do teatro Varasanta ( zona que mais freqüento), seja considerada de “estrato” número 4. Me ensinaram que aqui eles classificam economicamente os lugares como “estratos”, que vão do 1 ao 6 em ordem crescente de riqueza, então o teatro estava num lugar de bom estrato social. Havia  muitas árvores, muitas flores, as ruas bem cuidadas e lindas construções. Mas uma coisa que me chama muito a atenção é que não podemos nos distrair muito olhando as montanhas, pois de outra forma caímos em uma das centenas de bueiros destampados que existem quase que em todas as ruas. Alguém com mais propensão a acidentes ( como algumas pessoas que conheço), na certa já teriam caído bueiro abaixo.
Aqui há muitas frutas que não tem no Brasil como tomate de árbol, lulo, granadilla, e a minha grande favorita: a pitaya!
A pitaya é algo incrível, além de muito doce ela é linda. Por fora é amarela e por dentro, tem uma beleza transparente e carnuda, com inúmeras sementes pretas comestíveis.
Falando em frutas, é um hábito aqui misturar algumas frutas na comida. Assim vi, (mas não provei) a estranha combinação do chamado “arriaco”, que mistura abacate na sopa ( eca!). Mas a fruta campeã do cardápio é o plátano. Eles explicam que o plátano não é a mesma coisa que banana, embora até agora não perceba muito a diferença, só sei que plátano só se come cozido... e também existem vários tipos de plátano: o dominico, o guineo, inclusive aprendemos até  uma música que fala dos tipos de plátanos. Então conforme a tradição, por várias vezes apareceu no meu “plato”, as mil e uma formas de cozinhar plátano:  plátano cozido, plátano frito, plátano no forno, plátano à milanesa... e assim por diante...
Eu até que fui capaz de comer um pouquinho, mas a idéia não me convence muito. Acredito que meu pai sim iria gostar...
Na real sinto saudades das bananas de tamanho normal (ou pequenas)  e bem amarelinhas que encontro no Rio Grande do Sul. Desde que parti não as vi mais...E é claro, sinto também saudades do grande "apreciador" de bananas e da grande caidora oficial de bueiros, elogiada por Neruda!