quarta-feira, 18 de abril de 2012

Primeiros dias no Vale do Capão


Minha primeira semana aqui, foi como já comentei, de doença e de recuperação, mas ainda assim, já pude vivenciar e perceber muitas coisas da “cidade”. Por enquanto o que tem sido mais marcante é o contato intenso com a natureza. Apesar de não ter feito ainda nenhuma das famosas trilhas do lugar, eu respiro o ar puro constantemente, vejo todas as noites um magnífico céu, bordado de estrelas e até há algumas noites atrás, uma gigantesca lua cheia. Eu tomo banho nua de riacho, deito nas pedras para me aquecer no sol. Caminho descalça pela terra e pela areia das estradas, estas que provocam uma sensação inédita e lúdica na pele, pois parece que se está pisando em cima de talco...
Eu ouço o silêncio, os grilos e sapos à noite, os galos cantando pela manhã, e as galinhas cocoricando por todos os cantos (aqui tem muita galinha) . Ouço o barulho forte do vento mexendo nas árvores durante a noite. Aqui venta muito...
No camping em que estou parando no momento, às vezes, em vez do silêncio eu escuto sons de digiridum, pandeiro, e bem ao longe um forte som de tambores de música africana. (Acredito que venha de alguma aula de dança) Ouço também muito, muito reggae, o que me ajuda a constatar que realmente eu mudei de estado. Não estou mais em Pernambuco, e sim na Bahia. Percebo a diferença de ritmo, de comportamento e do sotaque dos baianos...
Bem em frente ao meu quarto tem uma árvore, onde dois sagüis já deram o ar de “suas graças”, chegando bem perto de mim, e mostrando, para meu espanto, as suas feições minúsculas e tão humanas. Semelhança que quase me faz considerá-los mini-seres humanos.
Já fui à feira de orgânicos e conheci o famoso “Circo do Capão”, que é um ponto de cultura onde tem aulas de circo e de dança. Existem outros espaços culturais e festivais de dança e circo. Quando eu cheguei estava acontecendo um festival de dança, que oferecia aulas de várias modalidades como danças brasileiras, dança do ventre, dança tribal, passes mágicos, etc.
Como eu já havia falado, Capão é famoso por ser um lugar muito cultural, então essas aulas continuam sendo oferecidas regularmente aqui. São oferecidas também aulas de yoga, diversos tipos de terapia e massagem.  Esse é um lugar cosmopolita, se vê gente de tudo que é lugar do mundo.  Percebo agora que foi esse também um dos motivos de meu estranhamento pelo local. Estou numa cidade do interior que é cosmopolita.
Os “seres” que aqui habitam, muitas vezes parecem ter vindo de outro planeta, pela maneira de se vestir, de se comportar...
As ruas não tem asfalto, um lugar fica bem distante do outro, a gente é obrigado a caminhar muito para ir a qualquer lugar e “engolir” muita poeira no caminho. É impossível permanecer mais de alguns segundos com os pés limpos. Pés de poeira já é a marca de Capão. Ás vezes se vê um deslocamento grande de pessoas pelas estradas, muitas delas indo a caminho das aulas de yoga, de canto, ou alguma outra das inúmeras atividades culturais. E o “centro”, que é chamado a Vila, tem meia dúzia de casas, a maioria restaurantes vegetarianos, lan house, uma igreja, uma praça e um quiosque onde tem aulas de capoeira.
Foi uma sensação estranha voltar de madrugada e sozinha na estrada escura, depois de um show que eu fui. Mas isso é comum aqui. É um lugar considerado muito seguro e tranqüilo. Eu de certa forma tive uma comprovação disso logo que cheguei na cidade. Eu estava esperando minha amiga na Vila cedinho da manhã com todas as minhas malas. Queria me deslocar em busca de uma lan house, um camping e um café da manhã, mas como disse, aqui é impossível não caminhar longas distâncias e com as malas isso seria quase impossível. Foi então que uma moça, dona de uma padaria me disse que eu poderia tranquilamente deixar minhas malas na rua mesmo. Eu não acreditei, mas ela reforçou a idéia: “Pode deixar na rua mesmo, que aqui ninguém “bóli” não”  Segundo ela, uma vez deixaram algumas malas na rua por DOIS dias e as malas permaneceram ali, no mesmo lugar... “ninguém buliu”. Eu sei que o que fiz foi muito arriscado, mas eu de fato deixei as malas jogadas no chão. Eu fiquei tão intrigada que acho que precisava “pagar pra ver”. De fato, passaram- se cerca de uma hora, e ninguém “buliu”.
Ainda na minha primeira semana aqui fui dançar forró na Vila. Ali se encontram tanto os nativos quanto os que vieram morar aqui e os que estão a passeio. Comemorei também meu niver de 36 anos, indo assistir a uma incrível apresentação de música, num espaço cultural chamado Jaqueira. Reuniram-se vários músicos, de diversos lugares do planeta, e acho que até de fora dele, com diversos instrumentos, alguns dos quais eu estava vendo e ouvindo pela primeira vez. Dentre eles um instrumento suíço chamado Hang Drum. Uma pessoa que conheci afirma que esse instrumento tem tecnologia extraterrestre. Diz que só na Suíça mesmo se consegue fazê-lo, que ninguém mais em nenhum outro lugar conseguiu, apesar de terem aberto o instrumento de cabo a rabo e tentado imita-lo inúmeras vezes. Até o formato parece uma nave espacial e o som é de fato especial. Diz que tem uma lista de espera de dois anos para comprar o instrumento e que ele custa cerca de quatro mil reais. O som que sai deste instrumento é lindo. Tivemos também instrumentos árabes, aborígines, africanos, cantos em línguas diversas. A música foi de fato sublime, um presente e tanto de aniversário...

Por que será que estou aqui?


Percebi que eu realmente estava me embrenhando mata adentro quando enxergo ainda sonolenta, uma placa na estrada por onde percorria meu ônibus, alertando para presença de veados  no caminho (só para esclarecer, se trata aqui do animal mesmo). Para uma pessoa criada na zona urbana, isso é algo no mínimo incomum.
Foi quase a mesma sensação que tive quando em Goiana, (Pernambuco) fui abrir a janela do meu quarto de madrugada e ainda sonolenta, dou de cara com um burro ( trata-se aqui do animal mesmo). Sobre essa viagem eu não contei ainda, trago neste momento apenas essa lembrança. Foi uma sensação muito distinta essa... Um burro no meio da madrugada na janela do meu quarto!
Mas voltando à outra viagem, eu estava nitidamente me aproximando muito da natureza, já não se via mais casas há muito tempo na estrada e eu estava me aproximando do Vale do Capão, meu próximo destino... O Capão fica na Chapada Diamantina, no coração da Bahia.
“Por que será que estou vindo pra cá?”, “O que estou fazendo aqui?” Eu me perguntava naquele momento, e muitas vezes, volto a me fazer a mesma pergunta. De certa forma eu tinha uma resposta, mas ela não me convencia completamente, ou melhor, ela ainda não me explicava tudo...
A resposta era que eu estava ouvindo falar de Capão, quase desde o primeiro instante em que eu havia colocado meus pés em Olinda. A maioria das pessoas que chegavam lá vinha de Capão, ou já tinham estado aqui. Todas elas falavam maravilhas do local. Alguns estrangeiros me falaram que consideravam inclusive o melhor lugar do Brasil. Mas o argumento que verdadeiramente me convenceu foi a descrição de que Capão era um local de muita natureza, arte e espiritualidade. Para mim essa “tríade básica” é o que acredito ser o mais próximo possível de uma “vida feliz” Essa minha amiga do teatro que conheci em Olinda morava aqui e minha amiga francesa também estava com planos de vir (novamente). Eu poderia seguir minha prática das danças aqui mesmo. Me disseram que tinha espaço para ensaios também (o que eu já não tinha mais em Olinda).  Então decidi que deveria vir para cá mesmo. Mais cedo ou mais tarde esse ano, eu já havia definido que iria conhecer o lugar, mas achei, devido a essas circunstâncias, que esse era o momento. Eu já havia sido informada também de que Capão era um local com uma energia muito forte.
Eu ainda estou tentando definir o que é o Capão, mas tem sido uma tarefa difícil... eu estranho o lugar, estranho as pessoas e me estanho também...
Bom, é necessário também relativizar esse meu estranhamento, pois na verdade faz três dias que estou começando a me recuperar de uma dengue que adquiri em Olinda. Faz uma semana que cheguei aqui, e o que fiz até agora foi basicamente ficar de repouso...


quinta-feira, 5 de abril de 2012

As coisas se renovam! Ó linda terra de arte, cor e calor


   Abrindo-me para aceitar esse momento diferente da cidade de Olinda e da minha jornada, comecei a perceber que as coisas se renovam.
Eu agora estava aos poucos conhecendo novas pessoas, e também ainda compartilhando muito com os antigos amigos que vinham com freqüência me visitar. Continuei fazendo trocas muito especiais.  Esses dias troquei alguns truques de barbantes com um mágico que conheci e que ficou meu amigo.      Conheci também uma osteopata espanhola que trocou seu tratamento pela minha massagem. Agora, já sou participante ativa do domingo cultural da casa , sendo que atuei ( apresentando minha cena criada na Colômbia) e cantei Raul Seixas nessa última edição do mesmo. Como Surama está de férias e Hilton não fica muito em casa, eu acabo muitas vezes fazendo o papel de “recepcionista” e também sou “convocada” para esclarecer os diálogos de Hilton com os hóspedes que não falam português.
Caminhando pelas ruas da cidade eu reitero meu amor por Olinda...
Eu gosto especialmente dessas magníficas noites de verão eterno.
Agora, estou criando o hábito caminhar na calçada à beira mar, logo que o sol se põe. Não é um trajeto muito longo, mas é impressionante tudo o que se pode apreciar de beleza nesse curto percurso. O mais marcante de tudo em primeiro lugar é a sensação forte da brisa do mar na pele; o vento refrescante (porém nunca frio), dando uma trégua daquele dia de intenso calor e sol e acaba de se por. As infinitas possibilidades de cores, sombras e desenhos que enfeitam o céu. De um lado o mar, as pedras, com suas centenas de gatos, das mais variadas formas, volumes, cores, idades... neste mesmo lado ainda, se vê a cidade de Recife ao longe e também alguns barquinhos espalhados no mar. Do outro lado as inúmeras casinhas coloridas, os morros, o farol, as pontas das igrejas ao alto, os coqueiros e as nuvens que fazem panos de fundo à eles. Com sorte, ainda se pode ouvir no caminho as batidas dos tambores que ecoam das praças, com o ritmo dos afoxés, do samba ou dos maracatus.
Fico me perguntando se é possível ser ou ficar triste aqui... acho que o calor não deixa. Conflitos mentais combinam mais com baixas temperaturas. O sol é forte, mas o povo não “esquenta a cabeça”.
Estar em Olinda é como pairar em uma outra dimensão, uma dimensão superiormente interessante. Dimensão de sonho, arte música, cor, calor.
Até o sotaque pernambucano é musical, como tudo aqui. Com algumas palavras sinto um deleite especial. Assim é com: “CAENGA”  “CASA CAIADA” e “TOTÓ”, que são os nomes que “passam” por mim, quando estou na parada de ônibus. Mas têm outras também deliciosas de se pronunciar, como os nomes de cidades e bairros: BEBERIBE e IMBIRIBEIRA. E que tal uma loja com o nome de “INSINUANTE”, com o som do “T” com a ponta da língua nos dentes da frente?
Eu estou quase a ponto de desistir em resistir com o incisivo sotaque gaúcho, afinal de contas não quero parecer turista, muito menos agressiva, fora que esse som macio vai penetrando nossos poros...  Assim como faz a brisa do mar.

“Nada do que foi será ...


  O retorno para Olinda me causou um grande estranhamento. Passaram-se um mês e meio que havia partido daqui, e isso foi o suficiente para perceber muitas mudanças (grandes ou pequenas).
Saí no período das prévias de carnaval, com as ruas entupidas de gente e música e voltei quando ele já havia acabado. Comecei a sentir diferença desde que saí do aeroporto. O calor que fazia, parecia ainda maior do que antes. Não sei se era porque estava desabituada e/ou por estar saindo do inverno de Bogotá. As passagens de ônibus tinham subido de preço. Olinda tinha pouca movimentação de carros e de pessoas nas ruas. Na casa de Hilton, só havia sobrado um dos amigos que conheci antes de partir. Todos já haviam ido embora. A casa estava quase vazia, o que trazia um sentimento desolador. Minha amigona francesa tinha se mudado pra uma outra casa aqui em Olinda, meu “ex- companheiro” tinha partido para o Maranhão. Meu gato, o Alphonsus, tinha desaparecido, e no lugar dele havia uma gata que estava amamentando 4 filhotinhos recém nascidos. Hilton que antes estava solteiro, agora estava de namorada firme e estava para  se casar. Surama estava de férias, tinha ido viajar. A casa tinha adquirido duas prateleiras na cozinha, mais um fogão, mais dois banheiros, e mais um armário. E eu acabei indo para um quarto não tão legal, que me dava uma outra impressão da vivência aqui. A casa estava muito mais silenciosa, eu já não acordava mais com música ao vivo e com as vozes dos meus amigos ou do filho de Surama perguntando o tempo todo: “é o quê”? Mas uma coisa continuava a mesma, o vendedor de maracujá ( “o irmão”) continuava perguntando meu nome.
   Ao mesmo tempo em que percebia todas essas mudanças externas, começava a me questionar também se eu também não havia mudado... e acho que sim, muita coisa acho que se processou nesse tempo. Ainda não sei bem o que é, mas se processou... se tantas coisas podem mudar tanto e visivelmente em 1 mês e meio, quiçá 3 meses ( hoje completo exatamente 3 meses de viagem). Ainda mais nas condições que estou vivendo, de conhecer muitas pessoas, muitos lugares, culturas diferentes, etc. Ao mesmo tempo foi um grande impacto ter saído daquele ambiente de trabalho tão intenso e tão propício para o mesmo. Eu sabia que isso seria difícil. Eu me acostumei naquele ritmo de criação e ensaios diários, onde eu simplesmente saía do meu quarto, descia as escadas e já tinha uma sala de ensaio a minha espera. Eu fico apreendida de deixar as rédeas frouxas ou de não conseguir uma maneira de mantê-las aqui. Sabia que seria algo a enfrentar a questão de agora estar por mim mesma, ter que batalhar um espaço pra ensaiar, e criar uma rotina de forma a não deixar perder a estrutura da cena que comecei a criar lá. Lá eu tinha ajuda de pessoas para criar e um espaço, e que aqui tenho que  batalhar por isso. De qualquer forma não estou totalmente desamparada, pois tive a sorte de conhecer aqui uma amiga que também é do teatro e com a qual fiz belas trocas. Trocamos treinamento de ator e ela me ensinou mais um pouco do cavalo-marinho. Com relação ao espaço também tive a sorte de conhecer o “Casarão Peleja”, espaço de um grupo de teatro daqui, que tem uma sala de trabalho na esquina da “Casa de Hilton”. Pude ensaiar um pouco a cena que tive que  criar para a Colômbia em troca das minhas massagens. Mas essa minha amiga vai embora daqui há uns dias. E apesar de toda essa sorte, óbvio que as coisas não são do mesmo jeito. Fora que agora tenho sentido saudades de TODO mundo. Desse pessoal todo que se foi, (ou irá em breve), de todo meu povo do Sul, e mais meu povo da Colômbia. Gozado que quanto mais conhecemos pessoas, mais nosso coração vai se enchendo de saudades...
Meu professor de música da Colômbia,  me disse olhando fundo nos meus olhos: - Luana, os encontros são eternos.
E é isso que sinto, mesmo quando eles são efêmeros...
Também tudo isso me fez sentir a transitoriedade da vida e também a constatação de uma frase que uma vez ouvi, mas que não lembro de quem é, mas ela diz:
“Nunca se nada duas vezes no mesmo rio”.
E isso acontece, pois na verdade, o rio nunca é mesmo...


Viagem a Villa de Leyva


Formávamos um grupo de brasileiros muito entusiasmados participando da primeira edição da Residência Artística “O corpo da organicidade” em Bogotá. Entre eles, quatro gaúchos e dois cariocas. Nos autodenominamos “Los Cheveres”. “Chevere”, é uma expressão muito utilizada lá pra dizer “legal”.
Recebemos a informação de que se tivéssemos que escolher um lugar pra visitar na Colômbia que não fosse muito longe de Bogotá, esse lugar deveria ser Villa de Leyva. Em português - o que nos custou muito a dizer-  se fala: Bija de Leiba.
 Assim, pegamos um final de semana e “embarcamos” pra lá. Iríamos passar dois dias, mas fomos obrigados a mudar de planos... uma  porque chegando lá nos demos conta de tudo o que teríamos para ver na cidade, e outra porque a viagem de ônibus que era para ter levado umas 3 horas levou umas 6. Tivemos alguns percalços no caminho, depois falarei disso.
Voltando ao “Los Cheveres”, esses “personagens” brasileiros eram um bem diferente do outro, e com idades que iam dos 23 aos 47 anos, o que deixava o encontro ainda mais interessante. Estávamos de fato muito entusiasmados, quase delirantes... Não calávamos a boca um segundo, e a excitação era tão grande para ver tudo, que quase gerava brigas na hora de escolher onde deveríamos ir, a que horas, etc. Nesses momentos a gente percebia o quanto os brasileiros podem ser histéricos. Em todo o tempo em que estivemos na Colômbia a gente nunca havia visto da parte deles esse tipo de comportamento. Eles são sempre muito discretos, educados e falam em voz baixa.
Nosso primeiro grande dilema foi se topávamos ou não pagar o passeio turístico em uma SHIVA - espécie de onibuzinho aberto e colorido - para fazer um tour nos principais pontos da cidade. O passeio sairia cerca de 40 pesos colombianos, o que representa também 40 reais. Todos acabamos topando, apesar de no início ouvirmos muitas queixas de uma das “Los Cheveres”, que argumentava não tolerar essa história de “passeio turístico”, ela argumentava que queria ter autonomia. Ainda ouvíamos suas queixas quando já estava sentadinha na shiva... mas isso não demorou muito tempo... logo havia dado o braço a torcer...
Nossa primeira parada foi numa casa de barro: “Terra Cota”. A maior casa de barro da América Latina. Imediatamente essa casa elevou nosso estado de espírito e nossa freqüência vibratória. A casa além de ter um estética fantástica, tinha uma energia espetacular. Tudo, exatamente tudo era construído com barro: fogão, vaso sanitário, pia, móveis, camas, etc. Ela era toda redonda e num formato meio labiríntico. Assim, a percorríamos como se fôssemos crianças, gritando de um lado para o outro e tirávamos fotos feito japoneses. Saímos ainda mais excitados daquela casa.
 No caminho para o próximo ponto, os Colombianos que também estavam passeando na Shiva,  pediram que a gente cantasse uma música brasileira, para que eles conhecessem... a gente cantou não apenas uma música mas  VINTE!  Na primeira e segunda música eles até aplaudiram e sorriram com aquela discrição colombiana de sempre, na terceira e na quarta eles já permaneciam neutros, na quinta e sexta nos ignoraram completamente e na décima oitava e nona, eles estavam até demonstrando certa aflição. E nós não cantamos apenas em português, nós cantamos também em espanhol TODAS as músicas que havíamos aprendido com nosso queridíssimo professor de música da residência. Cantamos também todos os tipos de ritmo, desde afoxé, baião, samba, pagode, bossa nova, frevo, e como se não bastasse isso, também fizemos um “clip”. Nós filmamos uma das “Cheveres” que é a cara da cantora e atriz Elizângela, cantando com caras, bocas e dublagem.
Nossa segunda parada foi os “Los Jardines del Desierto”. Eu achei que iríamos ver um jardim no deserto, mas não era bem isso... de qualquer forma foi muito especial. Era uma casa de um casal que tinha uma coleção de cactos, um espaço lindo no alto das montanhas onde haviam construído uma espécie de "labirinto" chamado "Siete Senderos". Esses caminhos são construídos com pequenas pedras. São de origem ancestral e existem vários tipo deles espalhados pelo mundo. Qualquer trilha escolhida nos leva para o centro do círculo. Um por um deveria tirar os sapatos, escolher sua trilha e ao chegar ao centro fazer uma prece para a sua “Mamá”. Quando estivesse caminhando em direção à saída deveria abraçar as pessoas que encontrasse no caminho e que também estavam se encaminhando ao centro.
Essa proposta era de uma simplicidade muito grande, mas todos nós pudemos sentir que havia ali naquele caminho, naquele momento e com aquelas pessoas, uma energia muito especial, poderosa e emocionante.
Nossa terceira parada foi um observatório Muisca, que era uma antiga civilização que conseguiu elaborar um sistema de calcular o tempo, as estações, os solstícios pelo posicionamento de pedras no espaço. A incidência da sombra no chão é que podia determinar isso. Na real muito pouca coisa permaneceu intacta, pois essas pedras tinham a formato de grandes “caralhos” e a civilização espanhola acabou por destruir quase tudo.
Nosso quarto ponto foi um museu de fósseis. Para falar a verdade, quase não desfrutei do mesmo. E o pessoal pelo visto também não, pois gastaram muito mais tempo comprando o artesanato que tinha em frente ao Museu
         O último ponto foi  “Os Lagos Azuis”. Como o nome já diz, os lagos era de fato azuis. Mas não apenas azuis... eram estupendamente azuis.
         Para encerrar o dia, decidimos ir às águas termais que tinham próxima à cidade, mas que não faziam parte do passeio turístico. Isso encerrou com “chave de ouro” nosso dia. Era a primeira vez que eu ia a uma água termal de verdade. Eu digo “de verdade”, pois na suposta “termal” que eu fui no Brasil- em  Imbituba (SC) - o que encontrei foi uma piscina.
         Pegamos uma vã para ir de Villa de Leyva até o local, que agora não me recordo o nome. Eu sei que quando a vã estacionou no alto da montanha onde supostamente estavam as termais e desligou as luzes, percebemos que estávamos numa total escuridão. Aí aos poucos fomos identificando algumas luzes que foram formando um quadro que nunca vou esquecer... eram centenas de pirilampos! Eles foram iluminando nosso caminho nessa descida que ia até os poços.
         Os poços ficavam ao ar livre, e iluminados apenas com luz de velas. As águas eram quentes e tinham cheiro de enxofre e em um dos poços (eram três), tinha inclusive uma bolha pulsando constantemente o que fazia parecer que estávamos num verdadeiro caldeirão de bruxa. A sensação era extremamente relaxante.
A parte da história que ainda não contei é sobre as estradas da Colômbia. Essa foi a razão do atraso da viagem. Ficamos todos muito impressionados com a imprudência no trânsito e precariedade das estradas. Dirigem em alta velocidade, muitos não usam cintos de segurança e ultrapassam em curvas. Tem estradas que são verdadeiros abismos, sem qualquer tipo de proteção. Pra quem conhece a “Garganta do Diabo” de Santa Maria, imagine uma altura bem maior que aquela e a estrada sem as laterais. O ônibus que a gente pegou até parecia que não tinha freio. Com o passar do tempo o que era uma suspeita tornou-se uma confirmação, pois acabou que ele veio a bater num carro da frente. Antes que qualquer um se assuste, já vou avisando que não aconteceu absolutamente nada com nosso ônibus, ficamos intactos. O carro da frente amassou, mas não causou ferimentos nas pessoas. Mas o fato é que tivemos que mudar de ônibus no caminho.
Há, esqueci de contar mais um detalhe de nossa viagem, é pequeno, mas foi marcante. Em primeiro lugar, nós ficamos todos juntos num quarto de uma pousada. Essa foi a parte legal. Mas a parte que não foi tanto é que a pousada só tinha chuveiro frio... a gente não teve coragem de entrar no chuveiro durante esses três dias de viagem, onde fizemos altos percursos, como vocês puderam ver.  Só no banho “theco” mesmo. Como se pode imaginar, já desde o primeiro dia estávamos almejando uma ducha quentinha, como a do Teatro Varasanta. Esse desejo cresceu ainda mais depois no nosso encerramento nas termais, pois nossos corpos fediam à enxofre. Um dos assuntos mais tratados do caminho da volta era o tal “banho” no Varasanta.
Gozado, que eu cada vez mais venho aprendendo nas minhas viagens que quanto mais a gente se apega a uma idéia, mais distante ela fica da gente. Foi o que aconteceu nesse caso e em outros que espero ainda relatar aqui. Bom o caso foi que ao colocar os pés no teatro tivemos a infeliz notícia que estranhamente aquele dia a água não havia “aparecido” e que não havia previsão de volta. Essa notícia dada a qualquer outro dia, não teria nos sido tão fatídica. Foram horas de espera e nada... eu já estava começando a me resignar com meu fedor e  me preparando para dormir mais uma noite assim... Mas eis que surge uma atriz do Varasanta e oferece para tomar-mos banho em sua casa.
Assim tomamos não só banho, como também jantamos na casa dela. Está aí outra coisa que venho aprendendo no caminho - sempre aparece uma alma generosa para nos “salvar” nos momentos de necessidade. Espero também ainda relatar aqui os exemplos disso.

De repente congelando na Paraíba...


No primeiro dia da virada de ano em Olinda, e depois de uma incrível festa de reveillon na Casa de Hilton, com direito a roda de cirando, côco, forró, e excelente companhia, minha amiga francesa bate na janela do meu quarto ainda de manhã: “Vamos pra Tambaba”? Se quiser, tem que ser agora...
Eu não demorei um segundo pra responder, foi só o tempo de perguntar “como?”.
 Ir pra Tambaba no dia primeiro do ano, era um projeto “antigo”, mas que já havíamos descartado devido a impossibilidade financeira e também ao transtorno de se chegar ao local via ônibus. Mas ela estava me comunicando que dois amigos nossos estavam ali em frente à pousada, de carro, nos oferecendo carona e toda a alimentação que eles já haviam (supostamente) providenciado. Eu não tive dúvidas, era o que mais queria!
Tambaba é uma praia de nudismo na Paraíba. Eu já havia tido a experiência de conhecer uma praia de nudismo em Santa Catarina- a praia do Pinho- por isso queria muito conhecer Tambaba, pois a experiência de banhar-se nu no mar, e também de estar em contato com a natureza da “forma que viemos ao mundo”, é algo muito especial. Imaginei que nas praias do Nordeste seria ainda melhor! Seria uma excelente forma de iniciar o ano!
Nem precisei pegar biquíni (que momento!), só entrei no carro com meu corpinho, meu vestidinho, uma toalha e uma canga. Iríamos voltar de noite, e seriam umas 2 horas de viagem.
Bom, esses dois amigos que falei, na real ainda não eram muito amigos, mas tínhamos deles, boas referências e informações (de fonte segura) de que eram “inofensivos”. Eram figuras que cresceram aqui em Olinda, então eram conhecidos de todos. Mas de fato eram “figuras”. Um era um enorme negão capoeirista, que agora morava em Paris, e o outro uma figura delgada e cabeluda, tanto de barba quanto de cabelo (vou chamar-lhe aqui de “Profeta”). Esse trabalhava na polícia, nos setor dos “presuntos”. Durante toda a viagem, Profeta deve ter falado duas frases, enquanto que o Capoeirista falava por nós quatro, com expressões vivas nos olhos, risadas histéricas e um tanto solitárias. O seu estilo e personalidade lembrava muito ao do famoso “Ban-Ban”, vencedor do primeiro Big Brother Brasil. Espalhafatoso mas de bom coração. Já o outro não há como se comparar a ninguém... realmente peculiar.
Partimos numa viagem de uma sensação térmica de uns 50 graus dentro do carro. Profeta vestia uma camisa preta, com um colete também preto de polícia, calças compridas, um par de meias e coturnos. Eu e minha amiga no banco de trás do carro, não conseguíamos entender a escolha deste figurino, dadas às condições climáticas...  Que tirasse o colete e-/ou as botas e já estaria melhor, mas não... permanecia em sofrimento.  Eu e ela dávamos muita risada desta situação intrigante.
Na metade do caminho, que na real já era mais que o dobro do que deveria ser (devido à precariedade do motor do carro), os meninos pararam numa venda para que escolhêssemos o que comprar para (supostamente) complementar a comida que levavam. Eu e minha amiga decidimos compramos então comprar um pão. Na real era a única coisa que havia na venda que não necessitasse de isopor. Há sim, eu também estava levando manga da casa de Hilton, pois como já relatei, lá as mangas despencam a todo instante.
Já quase no final do dia chegamos à praia. Foi um momento meio esquisito passar pelo tal “portal” que separa a praia “normal” da praia dos nudistas. Foi o mesmo portal que fez com que tivéssemos que,  instantaneamente, encarar com naturalidade a nudez daquela “dupla” e nossa própria nudez frente à eles.
Novamente eu a minha amiga francesa ríamos muito, mas discretamente... e falávamos entre nós : “Só a gente mesmo.., só a gente...”
Da outra vez que fui a praia de nudismo em Santa Catarina, foram só eu e minha grande  amiga, então não tive que passar por essa situação.
O sol estava baixando, então aproveitei para ainda tomar um banho de mar... Ao entrar na água, fui sentindo coisas estranhas... mas não adiantava fugir... Tive  a triste constatação que o mar dali era repleto de algas... algas meio secas (menos mal). Minha vontade de estar no mar era tanta, que tive de me concentrar neste desejo para abstrair um pouco a sensação de estar enredada. Achei que aquelas plantas sairiam envoltas e enroscadas em meus pêlos pubianos. Bom, ainda assim, estava em vantagem, pois nadar no mar pelada é muito bom e a paisagem daquela praia era belíssima, cheia de rochedos e de uma linda vegetação.
Como o sol já tinha se posto, imaginei que não restava muito mais o que fazer ali, senão esperar o nosso retorno, que deveria se dar em algumas horas, conforme o planejado. Além do que a temperatura dava os primeiros sinais de esfriamento.
Quando se aproximava o momento da partida, os meninos vieram nos dizer que o carro do Profeta estava com pouca gasolina, e que por isso era um risco voltar ainda de noite. Perguntaram se tudo bem a gente dormir ali e esperar o dia amanhecer. Essa constatação, não nos deixava outra alternativa, senão consentir..., até porque estávamos de carona.
Mas quase no mesmo momento que consenti fiquei pensando: “sim, mas dormir aonde”?
Algumas pessoas estavam acampadas ali na praia dormindo em barracas, mas nós não tínhamos nenhuma e também não tínhamos como ficar na única hospedagem que tinha ali.
Os meninos supostamente como solução a mesma pergunta que devem ter se feito, trouxeram do carro do Profeta (que na real estava bem distante de onde estávamos) - uma rede.
Eu permaneci com a mesma inquietação, mas eles estenderam a rede na areia, considerando o problema solucionado. Só para recordar éramos quatro pessoas, e havia uma rede de tamanho normal estendida no chão.
Nestas alturas estava mesmo muito frio, e havia muito, muito vento. Eu estava só com aquele mesmo corpinho que entrou no carro, o vestidinho, a toalha (agora meio molhada) e uma canga pequena. Também já havíamos quebrado a regra da praia da obrigatoriedade da nudez. Eu, o capoeirista e minha amiga vestimos nossas roupas. Já Profeta permaneceu pelado, mesmo no frio. Quer dizer, ele mantinha apenas sua pochete, literalmente. Isso ele não havia tirado em nenhum momento. Seu comportamento para com as temperaturas continuava nos sendo intrigante, no mínimo. Ele era o que mais podia se aquecer, tendo vista a quantidade de roupas que tinha à disposição, mas não... permanecia em sofrimento.
Esqueci de relatar que a alimentação que os meninos tinham levado era uma lata de sardinha e uns dois pedacinhos de bolo que restaram do ano novo da família do capoeirista. Mal pudemos sentir o gosto. Sendo assim, quando caiu a noite, já estávamos famintas.
A situação era patética: tivemos que ir comendo aos pedacinhos o pão que compramos, para economizar até o outro dia. Diga-se de passagem, também que aquele pão estava velho. Economizávamos também com uma garrafinha d’água de 500 ml. Lembrei-me com alegria da manga que havia trazido! Descasquei o fruto escorregadio sob a areia... o que já premeditava o destino trágico: um mamão a milanesa!  Estava me sentindo uma mendiga, ou atuando no filme “O Náufrago”, e mais uma vez isso me fez rir muito. Mas com o passar das horas minha risada fora se esvaindo... O frio aumentava. O carro estava muito distante, e era muito escuro para chegar até lá. Eu queria rapidamente me aquecer, então não tive outra alternativa senão deitar naquela rede ( e tentar me cobrir com ela mesmo). Eu ficava a pensar: se eu não me gripar e ficar doente com esse episódio, é porque estou mesmo muito forte. Ali na rede já estava Profeta. E foi assim, olhando nu para o céu que ele falou uma de suas duas frases, com um sotaque carregado e empregnado de pausas: -“ Eu pricisu ixtudá... aix cónxtélaçõex”...
Eu a essas alturas estava dando graças a Deus te ter trazido uma pequena canga, apesar dela não servir pra quase nada, pois era fina e não cobria todo meu corpo. Portanto, eu tinha que escolher entre tapar minhas pernas ou tapar o meu peito. Por enquanto só tínhamos deitado eu e Profeta, e como eu havia me enroscado como um croquete com a ponta da rede que sobrava para me cobrir do frio, eu era obrigada a ficar mais próxima dele.
Foi um forte momento de estranhamento, olhar para aquela criatura estranha e nua do meu lado, me ver naquela praia, naquele cenário, no dia primeiro do ano e naquela situação... eu não sabia direito como tudo aquilo havia acontecido, mas eu estava de repente ali, congelando na Paraíba... São aqueles breves e raros momentos da vida que tomamos um profundo distanciamento e ao mesmo tempo reconhecimento da situação. Desta forma eu me dava conta da incrível dinamicidade do mundo e da forte disposição que tenho para aventurar-me. Não era a primeira vez que de repente me dava conta de situações surrealistas nas quais de repente eu me encontrava. Mas não era aquilo que me incomodava...
O que me incomodava mesmo era o frio...  Pela primeira vez acho que senti na pele o que as pessoas que vivem na rua devem passar. Eu desejava profundamente que o dia chegasse, que o sol aparecesse. Eu tinha que me cobrir com a rede de uma forma que não mexesse na toalha e na canga que estavam me tapando, pois qualquer pedacinho de corpo sem pano, fazia a diferença. Mas outro detalhe sórdido é que cada vez que eu tentava me enroscar mais na rede, puxando a ponta do tecido, eu trazia junto com ela grande quantidade de areia pro meu corpo, incluindo minha cabeça, que estava praticamente direto na areia. Assim, eu começava a sentir areia na cabeça, e também mosquitos na minha perna. Só que cada vez que ia me coçar, eu desarrumava tudo o que havia construído com todo esforço, então novamente congelava. Assim, durante quase toda a madrugada eu fui desenvolvendo estratégias para tentar me coçar, quase sem me mover. Eu tinha que tirar as mãos debaixo das “cobertas” de forma que ficassem muito rentes ao corpo e com movimentos muito, muito lentos, e delicados, quase que imperceptíveis.
 Foram longas horas nesse processo... e incontáveis as vezes que executei esse momento, até que por alguns instantes, consegui atingir uma relativa  paz e adormecer. Mas nisso, sinto o beliscar de um caranguejo no meu tornozelo! Levanto num (sobressalto), desfazendo em segundos todo o meu trabalho de horas. Mas não vi caranguejo nenhum, e sim a mão do Profeta. Imaginei que ele estava sonhando e tendo tremilicos. Assim, relaxei e voltei a me acomodar, com grande dificuldade. Depois de muito tempo quando já estava quase encontrando uma relativa paz novamente, sinto novamente aquela mesma espécie de beliscar desritmado no tornozelo. Mas desta vez não houve dúvidas: era Profeta e não era sonho dele. Tratava-se, na realidade de uma investida de muita, muita inabilidade.
Deixei clara a minha insatisfação e me levantei de súbito. Mas o frio era intenso. Não sabia dos outros amigos, eu havia adormecido muito antes deles. Mas supus que haviam (não sei como) ido até o carro para dormir. Era impossível ficar mais de 2 segundos sem me cobrir, então era obrigada a deitar-me na rede de novo.
E assim, foi mais uma saga para conseguir adormecer de novo. Profeta “sossegou o facho”, e graças à Deus  o sol começou a despontar em seu primeiro fecho de luz.
Fui a primeira pessoa a despertar naquela praia, e assim, com uma grande satisfação e gratidão pelo calor do sol, saí para caminhar. Atravessei umas falésias que levam a outra enseada de mar. Eu estava completamente sozinha naquela praia e naquela natureza exuberante. Voltei a ficar nua e sentir o sol na minha pele. A praia era minha, só minha! Senti que aqueles momentos compensaram a terrível noite que passei. Era o início de 2012 e não é sempre que se tem a oportunidade de iniciar o ano assim!
Há sim, outro momento especial que passei, para não dizer que foram tão poucos, foi quando eu e minha amiga, ainda naquela noite (antes de cair a temperatura), entramos no mar ouvindo músicas do Bob Marley nos foninhos de ouvido. Naquele momento, não sei por que, o mar já não tinha algas, e a gente pôde ter uma forte sensação de liberdade com a noite, a água, a nudez, a solitude e a música. 
Mas a história ainda não acabou... Voltando a me reunir com a “galera”, depois da minha caminhada matinal, acabamos por ouvir  a segunda frase do Profeta - “Hoje eu trabalho di oito... maix vô di déix”. Assim ele estava querendo dizer que se permitiria chegar atrasado no trabalho aquele dia. Ainda bem que ele estava sossegado com a proposta, pois no final das contas o atraso foi ainda maior do que o previsto.
No retorno para Olinda, de fato, conforme já esperado, faltou gasolina no carro. E a sensação térmica daquele dia, como de todos os outros era daqueles 50 graus. Ficamos, portanto,  cozinhando no carro até que Profeta resolvesse o problema. Nossa sorte é que os Pernambucanos são um povo muito gentil e solidário, então desta forma não tardou muito para um nativo parar e nos ajudar. Jesus subiu na carona da moto do cara para buscar a gasolina. Mais uma vez me senti num filme do Fellini vendo aquela imagem. No fim tudo resolvido. Mas quase não acreditamos quando estávamos chegando novamente no portão da casa de Hilton. Ríamos muito novamente, mas agora também aliviadas e já com muitas histórias para contar para quem estava nos esperando em casa. Eu pude ter a comprovação de que estava mesmo forte, pois muito tempo se passou e a tal gripe nunca me pegou...