quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Mais um pouco de Suíça



 Já se passou um mês que estou aqui em Thun, e continuo captando/percebendo continuamente as características desta cidade. Reafirmo que aqui é a “Terra dos Frufus”, é impressionante a quantidade de detalhes que se pode reter da visão de cada casa em termos de enfeitezinhos, florzinhas, bonequinhos, enfim “frufruzadas”. Acho que até agora encontramos apenas UMA casa sem flores nas janelas ou quintal, o que até chega a parecer um desaforo. O interessante é que nossa amiga conhece a dona da casa, e nos contou que ela é vendedora de flores! Isso reafirma aquele ditado “em casa de ferreiro, espeto de pau”. Num único jardim de uma casa, é impressionante tudo o que se pode encontrar, desde estatuas pelo chão, gnomos, anões, “penduricos” por todos os lados. Nas lojas se encontram todos os tipos de “inutilidades”... tudo pensado para tornar a vida “mais e mais perfeita” e sem NENHUM esforço. Tem de tudo que se pode imaginar e não imaginar também, como um objeto criado para colocar numa garrafa d água e tornar mais fácil o ato de servir um copo (?) , tem também uma almofadinha para colocar um ovo em cima (?), tem um “bastão” que ajuda a pessoa a colocar os sapatos nos pés sem precisar se abaixar e o campeão dos frufus que é para mim os ovos de galinha que são vendidos já cozidos ( afinal de contas é muito difícil cozinhar um ovo) e pintados de variadas cores para distingui-los dos ovos crus.
Logo que cheguei aqui, admirei alguns cães “nadadores” que eu vi nos meus passeios ao lago. Eles eram exímios nadadores, indo buscar e devolver ao dono os pedaços de madeira ou bolinha atirados a água. Passados os dias, percebi que TODOS os cachorros fazem isso e são de uma obediência monótona. Aí foi que meu amigo suíço me explicou que aqui todo o cachorro é obrigado a freqüentar a “escola”. Claro que é legal ver um cão educadinho, mas sinto falta da espontaneidade de um cachorro qualquer, que atende quando a gente chama. Um dia desses eu estava deitada na grama do parque, quando ouvi gritos desesperados e um cachorro vindo correndo em minha direção. Os donos gritavam: - “DIANA, DIANA”!!!!!!! com uma voz de pânico, e eu -naquelas poucas frações de segundos que me distanciavam do cachorro- fiquei a imaginar o que estaria por vir, já que eles estavam tão desesperados. Mas o encontro foi magnífico, o cachorrão saltou em mim como se eu fora uma velha amiga e por aqueles breves segundos ambos nos esquecemos de que estávamos na Suíça. Logo chegaram os donos extremamente constrangidos e pedindo desculpas sem parar pela desobediência do cachorro.
Fiquei imaginando meu cachorro aqui, um vira-latas incorrigível que “nos leva para passear” na guia, que não para nunca de latir e sai correndo atrás dos calcanhares dos ciclistas e das rodas dos carros, ou uma de minhas cachorras que se atira em cima das pessoas e com seu tamanho é capaz de derrubá-las. Com certeza eu já estaria presa...
Acho que os cachorros aqui aprendem também a não latir, pois eu nunca ouço latidos de cachorro... aliás eu não ouço nada.... na vizinhança também tem muitos gatos, mas eu também não ouço os gatos. Talvez seja porque TODOS são castrados. Minhas amigas me disseram que aqui se respeita muito o silêncio depois das 10 da noite, pois as pessoas de fato chamam a policia quando se sentem incomodadas com o barulho. Também é proibido cortar grama das 12:00 às 14:00.
Com relação aos gatos, existe também algo muito peculiar. As casas tem uma “passagem secreta” para eles. Cada gato tem um chip que permite apenas a sua entrada a casa, não permitindo o acesso aos gatos alheios.
As ruas, as estradas, o centro, não tem UMA sujeira no chão. Para não mentir um dia encontramos um toco de cigarro na rua e um pedaço de borracha de pneu na estrada.
         Meus planos são de seguir viagem para a Índia, já estou tentando me preparar psicologicamente para viver os contrastes...


Vida de milionária na Suíça


Como já havia comentado por aqui, eu às vezes me surpreendo com minha capacidade de viver situações insólitas. Eu agora, no caso, estou tendo a capacidade de viver uma vida de milionária mesmo sem um tostão no bolso. A casa onde estou parando aqui em Thun, é de duas grandes amigas, que acabei conhecendo em Paris, quando fazia a escola de teatro do Philippe Gaulier. Na real aqui, é uma pousada também. Tudo é perfeito, impecável, exatamente aos moldes suíços. Parece um mundo de contos de fadas. Todas as casinhas são cheias de enfeites, detalhes coloridos, flores nas janelas. No Brasil poderíamos utilizar a expressão “frufru”.
A casa onde estou tem sacada para os Alpes e cama de massagem automática. Assim, tomo meu café da manhã contemplando a gigantesca JungFrau , montanha marrom e  verde com cobertura de “côco”. Quando falo que tomo café da manhã, estou falando  que como O  MELHOR pão, o MELHOR café, a MELHOR manteiga, o MELHOR queijo... tudo aqui é do BOM E DO MELHOR, incluindo todos os itens de cama, mesa e banho. Assim, tenho o MELHOR colchão, o MELHOR travesseiro, a MELHOR coberta...
Continuando minha jornada rica e bucólica, depois do café, ou em qualquer outro momento do dia, recebo essa incrível massagem da cama automática, que faz uso de pedras quentes. Há, e começo meu dia apanhando as pequeninas maçazinhas, e as framboesas que estão disponíveis no jardim.
Preciso contar também de minha chegada “triunfante” na cidade. É incrível, mas eu tenho conseguido a façanha de, sem planejar, estar presente ou mesmo de chegar às cidades no dia do aniversário das mesmas, ou quando estão comemorando algo. Assim aconteceu em Olinda e Recife, onde participei das comemorações de aniversário dessas cidades, assistindo ao show gratuito da Elba Ramalho. Um dia depois que cheguei em Udine,  (Itália), era aniversário da cidade e assim tiveram muitos shows de comemoração, espalhados pelos lugares. Em Veneza nem se fala, cheguei no dia da festa mais importante da cidade a “Festa del Redentore”. Portanto, aqui na suíça não foi diferente, cheguei no dia do aniversário do país. Assim, naquela noite, além de ver pela sacada de casa, as montanhas e Alpes suíços, eu ainda via, uma imensa lua cheia e os fogos de artifício completando o quadro surrealista. Minhas amigas suíças, devido a esses acontecimentos, me denominaram “party girl”.
Nessa comemoração suíça havia algo muito peculiar, ou pelo menos diferente da nossa cultura. TODAS as casas da vizinhança estavam soltando fogos de artifício, e os soltariam pela noite inteira. Mas não se ouvia uma voz humana sequer. No meu entendimento se eles compraram fogos para soltar a noite inteira pelo país, isso significa que realmente amam o lugar onde vivem e queriam festejar. Desta forma eu esperaria ouvir um “eeeee!!” ou “viva a suíça!!” (em Suíço Alemão, é claro), mas o silencio era sepulcral! Aliás, tudo é muito silencioso aqui... Entrei umas três vezes em lojas ou mercado e achei que não houvesse ninguém, devido ao silêncio, mas todos estavam ali... mesma coisa depois que “cai o dia”, não se ouve mais nada, absolutamente nada...e portanto também não se pode fazer barulho nenhum.
Dois dias depois da minha chegada, fui assistir a apresentação de um musical sobre o Titanic. O musical era ao ar livre, e o fundo do “palco” dava para os Alpes e para o Lago de Thun. Essa é a visão mais incrível que eu já pude obter de um lugar. Eu estive em Thun pela primeira vez em 2003 e nunca me esqueço do impacto que tive ao ver essa estupenda paisagem que havia se descortinado aos meus olhos ao estacionar minha bicicleta numa estreita ponte de madeira. Eu nem sequer pude exprimir uma palavra de admiração, fiquei muda por um bom tempo enquanto chorava de beleza. Uma emoção ímpar tomou conta de mim. Coincidentemente conheci uma pessoa em Porto Alegre que assim como eu, pela primeira e única vez na vida (até então)  , havia chorado ao ver uma paisagem e este lugar era uma cidade da Suíça, da qual ela não lembrava mais o nome. Acabamos por reconhecer que se tratava do mesmo lugar quando contei da minha experiência na cidade de THUN.
Trata-se de um imenso lago cor “verde-água nunca dantes visto”, rodeado por majestosas montanhas que exibem variadas formas, contornos, volumes e cores, que vão do verde intenso ao branco neve da base ao topo respectivamente. Há também algumas pedras na encosta - só para combinar dar aquele um toque decorativo característico da cidade.
Na época eu até havia tirado uma foto daquele local, que ficou marcado pra sempre na minha memória. Não é que saindo pra passear a uns dois dias atrás acabo por descobrir que estou há duas quadras daquele lugar? Nem pude acreditar, estou no lugar mais lindo do mundo! E vou poder usufruir dele por mais de um mês!
Na verdade tenho que admitir que, pra mim, às vezes não é tão simples assim aceitar essas condições... quero dizer que às vezes sinto culpa, ou não me sinto merecedora. Na verdade eu tenho que trabalhar profundamente dentro de mim para aceitar a beleza e o bem-estar supremo, quando ele aparece. Não sei por que isso acontece, não sei se é uma coisa minha, ou se é com todo mundo...
Fico pensando se não seria uma herança católica que esta incutida lá no nosso DNA, e que nos faz acreditar que só com muito trabalho ou sofrimento podemos alcançar a felicidade. Ou que devemos fazer MUITO por merecer... Eu costumo me pegar pensando: “tem gente que merece muito mais e não tem nada disso” Por exemplo, tem pessoas realmente lutando pelos direitos humanos, vivendo uma vida de dedicação pela humanidade, de abnegação, e estão muitas vezes vivendo em terríveis condições e perseguições de todos os tipos. Enfim, só dando uma rápida escapada para um papo meio filosófico sobre justiça, religião, sentido da vida, sei lá o que...
Mas voltando finalmente àquela apresentação do Titanic que fui assistir; eu já me daria por satisfeita só por ver aquele “cenário”, nem precisava de mais nada. Mas a encenação começara e assim iam aparecendo os atores vestidos conforme aquela época e invadindo o palco com os carros antigos e com  cânticos em Suíço Alemão! Mais um episódio surrealista para a minha coleção... A peça se desenrolava até chegar o ponto do início do naufrágio, e com ele veio a chuva. Era chuva de verdade... e quanto mais o “barco” afundava na cena, mais a chuva engrossava, o que dava um toque bastante realista a encenação.
Mas como tudo aqui na Suíça é perfeito, o público já estava preparado para as intempéries. Cada um recebeu ao entrar no espaço da encenação, uma capa de chuva. Assim, ao sinal das primeiras gotas, eu vi toda a platéia de “uniforme” amarelo. A chuva foi ficando tão forte que tiveram que cancelar a apresentação, pois estava ficando impraticável para os atores seguirem a cena do náufrago no meio de tanta água! Na saída, era impossível distinguir uma pessoa da outra naquela multidão de capinhas amarelas, assim tivemos que andar, eu e minha amiga, segurando uma na outra até chegar em casa. Não costumo ter medo de me perder nos lugares, quando estou em viagem, pois me sinto confortável com o inglês. Mas aqui é diferente, eu sou literalmente uma surda-muda e analfabeta. É muito estranho e muitas vezes desagradável a sensação de não entender absolutamente nada da língua. Percebo que nem todos falam inglês aqui... Eu estou na parte Alemã da Suíça, portanto eles falam suíço-alemão. Nem o nome da rua onde eu estou eu consigo dizer... mas de qualquer forma eu simpatizo com a língua, não é seca como o alemão, é cantada e redondinha...
Mas por incrível que pareça, apesar destas incríveis paisagens e do mundo “perfeito” que se tem a sensação de experimentar aqui, a Suíça está em primeiro ou segundo lugar dos paises que tem maior índice de suicídio no mundo atualmente. Quem me passou essa informação foi minha amiga suiça, eu ainda não cheguei a verificar. Acho que se for falar disso, entraria em outros papos mais filosóficos. Mas só para dar uma rápida e superficial passada,... eu não posso deixar de me lembrar do nosso povo e em especial  do que vi do povo do nordeste, com uma vida tão dificil e aparentemente tão sofrida, com uma cultura tão alegre, tão rica e com povo tão sorridente e amável... quanto contraste, quanta contradição.... ou não?
O que faz os habitantes do “paraíso” tão infelizes?
Uma coisa é certa, de forma geral, percebo a falta do riso, da bagunça, do som, da descontração, do toque, do carinho. E isso não é só aqui, pelo menos dos países da Europa que conheci, é da mesma forma...
Aqui é aperto de mão... Tenho que me conter para não abraçar as pessoas. Mais do que tudo, e isso eu sempre sinto, mas não sei ao certo explicar... é algo sobre a nossa música. A nossa música tem um “quê”, que mais nenhuma outra tem e esse “quê” certamente está no nosso DNA... felizmente!  Enfim, papo para uma outra postagem, quem sabe outra hora...