Finalmente
adentrei o território indiano com os meus (agora não mais tão lindos)
sapatinhos vermelhos, pisando no lindo e atapetado aeroporto Indira Gandhi in Deli Eu tinha pouco mais de 24 horas por lá. Seguiria viagem para Indonésia,
e depois retornaria a Índia com mais tempo.
Se
não conseguisse pouso com uma família de um amigo indiano que fiz em Roma, que
supostamente me receberia (explico mais adiante), eu iria dormir no aeroporto mesmo.
Eu havia conversado com um amigo romano que já tinha ido pra Índia e ele havia
me dito que realmente seria muito complicado sair e voltar para o aeroporto
sendo que tudo fica longe e se movimentar na Índia é difícil (em todos os
sentidos). Isso, todas as pessoas que conversei que já tinham ido para a Índia
me alertaram - que os indianos estão sempre tentando conseguir dinheiro, estão
sempre tentando te enrolar... levar para lugares errados, dando informações
erradas (pelo simples fato de que nunca dizem “não sei onde fica”, mesmo que
não saibam). O inglês deles é muito difícil de entender, e também o impacto de
um ocidental na cidade é muito grande. Muita gente te pedindo dinheiro, te
insistindo, te pegando, muita sujeira, gente doente, etc. Enfim, tudo isso me
fez ficar apavorada de colocar o nariz pra fora do aeroporto, mas ao mesmo
tempo me deixava uma profunda curiosidade para saber qual seria a minha
sensação e impressão diante de tudo isso. Até porque eu voltaria para a Índia em
um ou dois meses e ficaria mais tempo por lá (1 ou 2 meses mais). A família
indiana não me recebeu e eu, já bem cansada começava a constatar que ficar mais
de 24 horas naquele aeroporto seria muito difícil... ainda mais que no dia
seguinte eu teria mais uma viagem pela frente e mais uma noite no aeroporto da
Tailândia. Nesse momento, quando estava chegando a essa conclusão - deitada no
desconfortável banco do aeroporto, coberta com minha toalha de banho por causa
do frio do ar condicionado - uma moça tailandesa começou a puxar papo comigo.
No final das contas ela foi meu anjo naquele dia. Almoçou comigo no aeroporto,
dando dicas do que comer e me encaminhou através das agências do aeroporto para
um hotel perto dali que ela conhecia (barganhou preços para mim), e me
encomendou táxi pré-pago de forma que eu não tivesse nenhuma incomodação. Então
foi o que eu fiz. Eu precisava respirar um pouco da Índia e nesse breve trajeto
do aeroporto até o hotel já deu para ver um pouco do que eu já esperava pelas
informações das pessoas, pelos filmes e documentários que eu havia visto. Mas
creio ter sido só uma pequena amostra, pois não se tratava do centro da cidade.
Enfim,
carros buzinando sem parar e sem razão; uma criança e uma mulher com um bebê no
colo ficaram me pedindo dinheiro quando o carro parou numa sinaleira.
O hotel era bem decente e limpo, mas o
lugar ficava num “brejo”. Talvez fosse tudo assim? Decidi dar uma caminhada aos
arredores do hotel, queria aproveitar que ainda era dia. Eu tinha diferentes informações
a respeito da forma como deveria me vestir lá. Para os indianos que eu havia
perguntado, todos me haviam dito que não tinha nenhum problema em vestir as
roupas ocidentais, já os ocidentais me falaram que a gente não deve mostrar
ombros nem tornozelos. Eu resolvi novamente buscar minhas próprias conclusões.
Por via das dúvidas saí com calças compridas, mas com blusa regata. E o mais
importante, saí sem bolsa, sem nada.
Bom,
eu não sei se era eu ou a roupa, mas TODOS me olhavam. Eu me senti como uma
alienígena pousando num estranho planeta. Pois eu também tinha o mesmo olhar
para tudo, embora estivesse vendo tudo o que já esperava ver. Eu me sentia
dentro de um filme de Bollywood, tinha vontade de rir com a situação e com
aqueles milhares de olhares negros e profundos, os quais eu sentia ser alvo.
Especialmente olhares masculinos, pois a maioria esmagadora nas ruas eram
homens. Eu queria parecer familiarizada com o local e andar de forma objetiva
para não chamar ainda mais atenção, mas era difícil, havia milhares de coisas a
serem vistas com espanto, além dos milhares de olhares que eu também queria
olhar, e tudo isso fazia com que eu achasse ainda mais graça de tudo... Eu
sentia um misto de coisas dentro de mim, e aos poucos comecei a relaxar
interiormente e me permitir olhar mais, então meu olhar começava a cruzar o
olhar com olhares curiosos, olhares inocentes, olhares nitidamente desejosos,
ou mesmo desejosos e inocentes... Eu ia caminhando por ruelas sem asfalto no
meio das vacas, das pessoas, das motos que passavam correndo e buzinando sem
parar; barbearias que pareciam que tinham parado no tempo, crianças brincando,
lojas de tecidos, lojas esquisitas, pessoas cozinhando não sei o quê em panelas
nas ruas. De certa forma me lembrei de Cuba.
Quando
estava já retornando para o hotel um adolescente me parou muito educadamente e
me perguntou o que eu estava achando de “sua Índia”. Ele disse timidamente que
estava tremendo porque não sabia falar bem em inglês.
À
noite encomendei minha janta pelo hotel. Não entendia nada do que significava a
comida do cardápio, até que encontrei “Chinese Shop Suei”. Não hesitei na
escolha, mas o que recebi foi algo nunca dantes visto, estava longe de ser a
tradicional comida chinesa. Acho que era uma versão “made in china”. Recebi um
pote do que parecia ser uma batata palha, mas também não era batata, com um
pote do que parecia ser uma sopa vermelha de legumes. Dentro de cada pote
recebi também um fio de cabelo de brinde. Tive de encarar a refeição, pois
estava com fome. Supus que deveria mergulhar a “batata palha” na “sopa”, o que
fazia lembrar um pouco mais o “shop suei”. Fora os cabelos, a comida estava uma
delícia, mas não consegui comer tudo, fiquei com receio de que alguma coisa não
pudesse cair bem. E assim terminou meu dia na India, tudo certo, sobrevivi! E
voltarei...
Luana, teu blog tá lindo! Estudo em Silveira, onde tu foste contar os relatos... Continua escrevendo, tá ótimo!
ResponderExcluirEba! Grata, fico feliz que você gostou! Grande abraço!
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