quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Uma luz no fim do túnel, ou melhor: nos quatro cantos!

  Resolvi me colocar a prova durante esta semana ainda, antes de tomar uma decisão com relação ao meu impasse do frevo. Talvez em outras escolas o sistema fosse diferente... vai saber. Tenho quatro lugares diferentes para aprender, todos gratuitos! Assim posso experimentar outras opções!
Enfim, resolvi arriscar ir na “Pitombeira dos Quatro Cantos”. Eram só eu e mais umas 7 crianças de uns 6 a 14 anos! Por um lado imaginei que poderia ter uma atenção especial, o que facilitaria o aprendizado, mas por outro, se a aula fosse do mesmo jeito que da outra que eu fui, eu pagaria um mico muito mais visível. No final das contas, fiz bem em experimentar.  Nessa aula voltei a me sentir um ser humano normal, pude repetir quase todos os passos (com exceção dos que desciam até o chão). A esperança voltou a brilhar pra mim!
Fui também fazer aula na Escola Municipal de Frevo de Recife. Aí sim, senti que estava fazendo uma verdadeira aula! Senti também um prazer “quase que sexual” quando consegui minha primeira ida até o chão e subir de imediato. Apesar dessa “evolução”, parece que eu sou sempre a única que está aprendendo a dançar. Até não sei por que este povo se matricula nas escolas, eles todos já dançam, executando aqueles saltos surreais, e “quicando” no chão como se tivessem molas nos pés. Eu sou sempre a iniciante. Desta forma eu sempre me destôo do grupo. Nesta aula, inclusive fui vítima de bullying! Senti-me como aquela coleguinha nova que é rejeitada pelo grupo. Já no alongamento inicial onde tínhamos que fazer duplas, sutilmente suspeitei de uma discriminação, pois desviaram do meu olhar na hora de fazer os pares. Mas depois, na hora em que tínhamos que atravessar uma diagonal fazendo os passos em dupla, a discriminação foi confirmada: as crianças não queriam ir comigo! Senti um “burburim” quando ia chegando minha vez e ao mesmo tempo fui me dando conta de que ainda não tinha ninguém do meu lado... até que ouvi uma mulher dizer “Deixa que eu vou com ela!” e se colocou ao meu lado com a intenção de acabar com o tal impasse das crianças!  
Minha última experiência de aula da semana foi numa praça ao ar livre em Recife ( Praça do Hipódromo). Não havia muitas pessoas, era um lugar super-agradável, e eu já podia identificar muitos ali, que eu já tinha visto ou conversado, ou mesmo colegas das outras aulas de frevo. Então já estava entre “amigos”!
A aula era com professores do “Guerreiros do Passo”, que é a escola fundada por Nascimento do Passo, o cara que sistematizou o frevo, catalogando, nomeando os passos e criando uma metodologia de ensino para os mesmos. Dançamos muito e freneticamente! Como de costume o calor era intenso e o professor (aparentemente sem se incomodar) tava com a cara direto no sol.  Enquanto eu “arfava” e o suor escorria abundantemente por todos os meus poros e dos demais colegas, eu ficava a pensar: Porque o frevo foi criado justo aqui? Se fosse para seguir uma lógica, é evidente que ao sentir um calor escaldante qualquer mortal, instintivamente, procuraria sombra e água fresca. Mas não, resolveram desafiar as leis da natureza e qualquer entendimento, criando e ainda por cima perpetuando a dança mais “quente” e “pipocante” que existe; resolveram dançar no meio de uma multidão no sol rachando e o que é mais surreal: subindo ladeiras (como no caso dos Olindenses)!! O nome da dança já diz tudo: é originário do termo “frevendo”, para se referir à temperatura do chão quando a “galera” sem sapatos, pulava o carnaval.  Os países nórdicos é que poderiam ter sido os inventores do frevo. Desta forma poderiam se esquentar e se animar, diminuindo as depressões e índices de suicídio... Já aqui poderiam ter inventado algo mais leve e lento, mais próximo ao Tai chi Chuan... Talvez o raciocínio inconsciente na criação do frevo tenha sido inspirado no dito popular “ quando não se pode derrotar um inimigo, una-se à ele”! Assim eles buscaram esquecer o tal calor externo esquentando o interno também. Ou então a criação do frevo serviu para consolo no calor, assim a pessoa passa a ter uma outra referência e a pensar: “Ó, que calor! Mas com certeza pior estaria se estivesse dançando frevo!”
  Voltando a aula da praça, eu também havia me lembrado daquela propaganda que dizia: “Provoque a sede até não agüentar mais... e acabe com ela com... Teen”. Aqui acho que eles só guardaram a primeira parte da frase, pois quando estávamos no fim desta aula intensiva de frevo e já em estado de “exaustão” à espera da “teen”, a aula teve imediata continuidade com outros ritmos como cavalo-marinho, côco, afoxé, ciranda, caboclinho, capoeira...
Agora tenho que admitir que na real mesmo cansada, sentia-me extremamente viva e energizada.
O que acho mais impressionante daqui é que a dança faz mesmo parte da vida das pessoas. Estou acostumada a pagar um valor para ir ao teatro e ver os artistas no palco. Quando fecha a cortina, acaba o espetáculo... mas aqui, a cortina está sempre aberta, o espetáculo é gratuito e os artistas são o povo que dançam pelo gosto de dançar. Antônio Nóbrega é um artista famoso, que utiliza as danças populares em seus trabalhos. Ele é uma referência no Brasil e no exterior. Eu sou acostumada a pensar que ele é magnífico devido ao  fato de ter  aprimorado seu trabalho como um artista profissional ( claro que isso também é uma verdade), mas o que quero dizer é que existem um milhão de “Antônios Nóbregas” por aqui espalhados aos quatro cantos e não são necessariamente artistas profissionais como ele.
Eu vejo aqui cenas surrealistas como a do senhor de uns 60 anos de idade que no ensaio da orquestra de frevo na rua, faz um “carpado”- (salto onde se abre as duas pernas lá em cima) , passando um enorme guarda-chuva enfeitado  entre as pernas! Aliás diz que o frevo antigamente era dançado com sombrinha de verdade, e que foi Nascimento do Passo quem idealizou a sombrinha menor para um aprendizado mais fácil da dança. Vi também uma menina dançando de pés descalços naquele calçamento de “ladrilho” irregular, fazendo passos em que se esfregam os pés no chão (parte interna e externa alternadamente), sem entender como ela saía com os pés ilesos deste movimento.
Por todas essas razões fiquei supondo que a origem do nome Pernambuco só pode vir de PERNA.
Ninguém sabe me dizer, mas se não foi por essa razão explícita, com certeza estava no inconsciente do povo...

Um comentário:

  1. Amiga... como somos parecidas. Tu viaja na maionese, né? Cavocando explicação pra tudo! Realmente o povo nórdico deveria ter inventado uma dança caliente pra poder se alegrar e se esquentar. Mas amiga, o sol é fonte que estimula esse calor que os humanos tanto nessitam. Como poderiam transbordar calor, quando eles estão carecendo enormemente disso? Gostei da hipótese da "perna" como origem do nome Pernambuco. hehehe Só tu pra me fazer sorrir numa horinha dessas. Te amo, querida.
    Bjs da Le

    ResponderExcluir