quinta-feira, 5 de abril de 2012

Viagem a Villa de Leyva


Formávamos um grupo de brasileiros muito entusiasmados participando da primeira edição da Residência Artística “O corpo da organicidade” em Bogotá. Entre eles, quatro gaúchos e dois cariocas. Nos autodenominamos “Los Cheveres”. “Chevere”, é uma expressão muito utilizada lá pra dizer “legal”.
Recebemos a informação de que se tivéssemos que escolher um lugar pra visitar na Colômbia que não fosse muito longe de Bogotá, esse lugar deveria ser Villa de Leyva. Em português - o que nos custou muito a dizer-  se fala: Bija de Leiba.
 Assim, pegamos um final de semana e “embarcamos” pra lá. Iríamos passar dois dias, mas fomos obrigados a mudar de planos... uma  porque chegando lá nos demos conta de tudo o que teríamos para ver na cidade, e outra porque a viagem de ônibus que era para ter levado umas 3 horas levou umas 6. Tivemos alguns percalços no caminho, depois falarei disso.
Voltando ao “Los Cheveres”, esses “personagens” brasileiros eram um bem diferente do outro, e com idades que iam dos 23 aos 47 anos, o que deixava o encontro ainda mais interessante. Estávamos de fato muito entusiasmados, quase delirantes... Não calávamos a boca um segundo, e a excitação era tão grande para ver tudo, que quase gerava brigas na hora de escolher onde deveríamos ir, a que horas, etc. Nesses momentos a gente percebia o quanto os brasileiros podem ser histéricos. Em todo o tempo em que estivemos na Colômbia a gente nunca havia visto da parte deles esse tipo de comportamento. Eles são sempre muito discretos, educados e falam em voz baixa.
Nosso primeiro grande dilema foi se topávamos ou não pagar o passeio turístico em uma SHIVA - espécie de onibuzinho aberto e colorido - para fazer um tour nos principais pontos da cidade. O passeio sairia cerca de 40 pesos colombianos, o que representa também 40 reais. Todos acabamos topando, apesar de no início ouvirmos muitas queixas de uma das “Los Cheveres”, que argumentava não tolerar essa história de “passeio turístico”, ela argumentava que queria ter autonomia. Ainda ouvíamos suas queixas quando já estava sentadinha na shiva... mas isso não demorou muito tempo... logo havia dado o braço a torcer...
Nossa primeira parada foi numa casa de barro: “Terra Cota”. A maior casa de barro da América Latina. Imediatamente essa casa elevou nosso estado de espírito e nossa freqüência vibratória. A casa além de ter um estética fantástica, tinha uma energia espetacular. Tudo, exatamente tudo era construído com barro: fogão, vaso sanitário, pia, móveis, camas, etc. Ela era toda redonda e num formato meio labiríntico. Assim, a percorríamos como se fôssemos crianças, gritando de um lado para o outro e tirávamos fotos feito japoneses. Saímos ainda mais excitados daquela casa.
 No caminho para o próximo ponto, os Colombianos que também estavam passeando na Shiva,  pediram que a gente cantasse uma música brasileira, para que eles conhecessem... a gente cantou não apenas uma música mas  VINTE!  Na primeira e segunda música eles até aplaudiram e sorriram com aquela discrição colombiana de sempre, na terceira e na quarta eles já permaneciam neutros, na quinta e sexta nos ignoraram completamente e na décima oitava e nona, eles estavam até demonstrando certa aflição. E nós não cantamos apenas em português, nós cantamos também em espanhol TODAS as músicas que havíamos aprendido com nosso queridíssimo professor de música da residência. Cantamos também todos os tipos de ritmo, desde afoxé, baião, samba, pagode, bossa nova, frevo, e como se não bastasse isso, também fizemos um “clip”. Nós filmamos uma das “Cheveres” que é a cara da cantora e atriz Elizângela, cantando com caras, bocas e dublagem.
Nossa segunda parada foi os “Los Jardines del Desierto”. Eu achei que iríamos ver um jardim no deserto, mas não era bem isso... de qualquer forma foi muito especial. Era uma casa de um casal que tinha uma coleção de cactos, um espaço lindo no alto das montanhas onde haviam construído uma espécie de "labirinto" chamado "Siete Senderos". Esses caminhos são construídos com pequenas pedras. São de origem ancestral e existem vários tipo deles espalhados pelo mundo. Qualquer trilha escolhida nos leva para o centro do círculo. Um por um deveria tirar os sapatos, escolher sua trilha e ao chegar ao centro fazer uma prece para a sua “Mamá”. Quando estivesse caminhando em direção à saída deveria abraçar as pessoas que encontrasse no caminho e que também estavam se encaminhando ao centro.
Essa proposta era de uma simplicidade muito grande, mas todos nós pudemos sentir que havia ali naquele caminho, naquele momento e com aquelas pessoas, uma energia muito especial, poderosa e emocionante.
Nossa terceira parada foi um observatório Muisca, que era uma antiga civilização que conseguiu elaborar um sistema de calcular o tempo, as estações, os solstícios pelo posicionamento de pedras no espaço. A incidência da sombra no chão é que podia determinar isso. Na real muito pouca coisa permaneceu intacta, pois essas pedras tinham a formato de grandes “caralhos” e a civilização espanhola acabou por destruir quase tudo.
Nosso quarto ponto foi um museu de fósseis. Para falar a verdade, quase não desfrutei do mesmo. E o pessoal pelo visto também não, pois gastaram muito mais tempo comprando o artesanato que tinha em frente ao Museu
         O último ponto foi  “Os Lagos Azuis”. Como o nome já diz, os lagos era de fato azuis. Mas não apenas azuis... eram estupendamente azuis.
         Para encerrar o dia, decidimos ir às águas termais que tinham próxima à cidade, mas que não faziam parte do passeio turístico. Isso encerrou com “chave de ouro” nosso dia. Era a primeira vez que eu ia a uma água termal de verdade. Eu digo “de verdade”, pois na suposta “termal” que eu fui no Brasil- em  Imbituba (SC) - o que encontrei foi uma piscina.
         Pegamos uma vã para ir de Villa de Leyva até o local, que agora não me recordo o nome. Eu sei que quando a vã estacionou no alto da montanha onde supostamente estavam as termais e desligou as luzes, percebemos que estávamos numa total escuridão. Aí aos poucos fomos identificando algumas luzes que foram formando um quadro que nunca vou esquecer... eram centenas de pirilampos! Eles foram iluminando nosso caminho nessa descida que ia até os poços.
         Os poços ficavam ao ar livre, e iluminados apenas com luz de velas. As águas eram quentes e tinham cheiro de enxofre e em um dos poços (eram três), tinha inclusive uma bolha pulsando constantemente o que fazia parecer que estávamos num verdadeiro caldeirão de bruxa. A sensação era extremamente relaxante.
A parte da história que ainda não contei é sobre as estradas da Colômbia. Essa foi a razão do atraso da viagem. Ficamos todos muito impressionados com a imprudência no trânsito e precariedade das estradas. Dirigem em alta velocidade, muitos não usam cintos de segurança e ultrapassam em curvas. Tem estradas que são verdadeiros abismos, sem qualquer tipo de proteção. Pra quem conhece a “Garganta do Diabo” de Santa Maria, imagine uma altura bem maior que aquela e a estrada sem as laterais. O ônibus que a gente pegou até parecia que não tinha freio. Com o passar do tempo o que era uma suspeita tornou-se uma confirmação, pois acabou que ele veio a bater num carro da frente. Antes que qualquer um se assuste, já vou avisando que não aconteceu absolutamente nada com nosso ônibus, ficamos intactos. O carro da frente amassou, mas não causou ferimentos nas pessoas. Mas o fato é que tivemos que mudar de ônibus no caminho.
Há, esqueci de contar mais um detalhe de nossa viagem, é pequeno, mas foi marcante. Em primeiro lugar, nós ficamos todos juntos num quarto de uma pousada. Essa foi a parte legal. Mas a parte que não foi tanto é que a pousada só tinha chuveiro frio... a gente não teve coragem de entrar no chuveiro durante esses três dias de viagem, onde fizemos altos percursos, como vocês puderam ver.  Só no banho “theco” mesmo. Como se pode imaginar, já desde o primeiro dia estávamos almejando uma ducha quentinha, como a do Teatro Varasanta. Esse desejo cresceu ainda mais depois no nosso encerramento nas termais, pois nossos corpos fediam à enxofre. Um dos assuntos mais tratados do caminho da volta era o tal “banho” no Varasanta.
Gozado, que eu cada vez mais venho aprendendo nas minhas viagens que quanto mais a gente se apega a uma idéia, mais distante ela fica da gente. Foi o que aconteceu nesse caso e em outros que espero ainda relatar aqui. Bom o caso foi que ao colocar os pés no teatro tivemos a infeliz notícia que estranhamente aquele dia a água não havia “aparecido” e que não havia previsão de volta. Essa notícia dada a qualquer outro dia, não teria nos sido tão fatídica. Foram horas de espera e nada... eu já estava começando a me resignar com meu fedor e  me preparando para dormir mais uma noite assim... Mas eis que surge uma atriz do Varasanta e oferece para tomar-mos banho em sua casa.
Assim tomamos não só banho, como também jantamos na casa dela. Está aí outra coisa que venho aprendendo no caminho - sempre aparece uma alma generosa para nos “salvar” nos momentos de necessidade. Espero também ainda relatar aqui os exemplos disso.

2 comentários:

  1. Lu!!

    Eu estava procurando coisas na internet e me deparei com o seu blog, acredita?

    Fiquei emocionado lendo a sua descrição da nossa viagem! Nossa! Quantas lembranças maravilhosas dos Cheveres!! Temos que viajar juntos de novo!!

    Que saudade grande, grande Lu! Um VIVA aos encontros eternos!

    Beijãozão e um abraço bem apertado! Te gosto demais e espero que nos encontremos logo, logo! Tudo de bom!

    Edu Colombo.

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    1. Menino, como assim? De que jeito tu achou?hahaha!
      Eu ia mesmo enviar o blog pra vcs lerem da nossa viagem!Muitas saudades! certo que temos que viajar de novo juntos!! Vai continuar sendo muito, muito Chevere!! Tudo de maravilhoso na tua jornada!!!

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