quarta-feira, 18 de abril de 2012

Primeiros dias no Vale do Capão


Minha primeira semana aqui, foi como já comentei, de doença e de recuperação, mas ainda assim, já pude vivenciar e perceber muitas coisas da “cidade”. Por enquanto o que tem sido mais marcante é o contato intenso com a natureza. Apesar de não ter feito ainda nenhuma das famosas trilhas do lugar, eu respiro o ar puro constantemente, vejo todas as noites um magnífico céu, bordado de estrelas e até há algumas noites atrás, uma gigantesca lua cheia. Eu tomo banho nua de riacho, deito nas pedras para me aquecer no sol. Caminho descalça pela terra e pela areia das estradas, estas que provocam uma sensação inédita e lúdica na pele, pois parece que se está pisando em cima de talco...
Eu ouço o silêncio, os grilos e sapos à noite, os galos cantando pela manhã, e as galinhas cocoricando por todos os cantos (aqui tem muita galinha) . Ouço o barulho forte do vento mexendo nas árvores durante a noite. Aqui venta muito...
No camping em que estou parando no momento, às vezes, em vez do silêncio eu escuto sons de digiridum, pandeiro, e bem ao longe um forte som de tambores de música africana. (Acredito que venha de alguma aula de dança) Ouço também muito, muito reggae, o que me ajuda a constatar que realmente eu mudei de estado. Não estou mais em Pernambuco, e sim na Bahia. Percebo a diferença de ritmo, de comportamento e do sotaque dos baianos...
Bem em frente ao meu quarto tem uma árvore, onde dois sagüis já deram o ar de “suas graças”, chegando bem perto de mim, e mostrando, para meu espanto, as suas feições minúsculas e tão humanas. Semelhança que quase me faz considerá-los mini-seres humanos.
Já fui à feira de orgânicos e conheci o famoso “Circo do Capão”, que é um ponto de cultura onde tem aulas de circo e de dança. Existem outros espaços culturais e festivais de dança e circo. Quando eu cheguei estava acontecendo um festival de dança, que oferecia aulas de várias modalidades como danças brasileiras, dança do ventre, dança tribal, passes mágicos, etc.
Como eu já havia falado, Capão é famoso por ser um lugar muito cultural, então essas aulas continuam sendo oferecidas regularmente aqui. São oferecidas também aulas de yoga, diversos tipos de terapia e massagem.  Esse é um lugar cosmopolita, se vê gente de tudo que é lugar do mundo.  Percebo agora que foi esse também um dos motivos de meu estranhamento pelo local. Estou numa cidade do interior que é cosmopolita.
Os “seres” que aqui habitam, muitas vezes parecem ter vindo de outro planeta, pela maneira de se vestir, de se comportar...
As ruas não tem asfalto, um lugar fica bem distante do outro, a gente é obrigado a caminhar muito para ir a qualquer lugar e “engolir” muita poeira no caminho. É impossível permanecer mais de alguns segundos com os pés limpos. Pés de poeira já é a marca de Capão. Ás vezes se vê um deslocamento grande de pessoas pelas estradas, muitas delas indo a caminho das aulas de yoga, de canto, ou alguma outra das inúmeras atividades culturais. E o “centro”, que é chamado a Vila, tem meia dúzia de casas, a maioria restaurantes vegetarianos, lan house, uma igreja, uma praça e um quiosque onde tem aulas de capoeira.
Foi uma sensação estranha voltar de madrugada e sozinha na estrada escura, depois de um show que eu fui. Mas isso é comum aqui. É um lugar considerado muito seguro e tranqüilo. Eu de certa forma tive uma comprovação disso logo que cheguei na cidade. Eu estava esperando minha amiga na Vila cedinho da manhã com todas as minhas malas. Queria me deslocar em busca de uma lan house, um camping e um café da manhã, mas como disse, aqui é impossível não caminhar longas distâncias e com as malas isso seria quase impossível. Foi então que uma moça, dona de uma padaria me disse que eu poderia tranquilamente deixar minhas malas na rua mesmo. Eu não acreditei, mas ela reforçou a idéia: “Pode deixar na rua mesmo, que aqui ninguém “bóli” não”  Segundo ela, uma vez deixaram algumas malas na rua por DOIS dias e as malas permaneceram ali, no mesmo lugar... “ninguém buliu”. Eu sei que o que fiz foi muito arriscado, mas eu de fato deixei as malas jogadas no chão. Eu fiquei tão intrigada que acho que precisava “pagar pra ver”. De fato, passaram- se cerca de uma hora, e ninguém “buliu”.
Ainda na minha primeira semana aqui fui dançar forró na Vila. Ali se encontram tanto os nativos quanto os que vieram morar aqui e os que estão a passeio. Comemorei também meu niver de 36 anos, indo assistir a uma incrível apresentação de música, num espaço cultural chamado Jaqueira. Reuniram-se vários músicos, de diversos lugares do planeta, e acho que até de fora dele, com diversos instrumentos, alguns dos quais eu estava vendo e ouvindo pela primeira vez. Dentre eles um instrumento suíço chamado Hang Drum. Uma pessoa que conheci afirma que esse instrumento tem tecnologia extraterrestre. Diz que só na Suíça mesmo se consegue fazê-lo, que ninguém mais em nenhum outro lugar conseguiu, apesar de terem aberto o instrumento de cabo a rabo e tentado imita-lo inúmeras vezes. Até o formato parece uma nave espacial e o som é de fato especial. Diz que tem uma lista de espera de dois anos para comprar o instrumento e que ele custa cerca de quatro mil reais. O som que sai deste instrumento é lindo. Tivemos também instrumentos árabes, aborígines, africanos, cantos em línguas diversas. A música foi de fato sublime, um presente e tanto de aniversário...

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