quinta-feira, 5 de abril de 2012

“Nada do que foi será ...


  O retorno para Olinda me causou um grande estranhamento. Passaram-se um mês e meio que havia partido daqui, e isso foi o suficiente para perceber muitas mudanças (grandes ou pequenas).
Saí no período das prévias de carnaval, com as ruas entupidas de gente e música e voltei quando ele já havia acabado. Comecei a sentir diferença desde que saí do aeroporto. O calor que fazia, parecia ainda maior do que antes. Não sei se era porque estava desabituada e/ou por estar saindo do inverno de Bogotá. As passagens de ônibus tinham subido de preço. Olinda tinha pouca movimentação de carros e de pessoas nas ruas. Na casa de Hilton, só havia sobrado um dos amigos que conheci antes de partir. Todos já haviam ido embora. A casa estava quase vazia, o que trazia um sentimento desolador. Minha amigona francesa tinha se mudado pra uma outra casa aqui em Olinda, meu “ex- companheiro” tinha partido para o Maranhão. Meu gato, o Alphonsus, tinha desaparecido, e no lugar dele havia uma gata que estava amamentando 4 filhotinhos recém nascidos. Hilton que antes estava solteiro, agora estava de namorada firme e estava para  se casar. Surama estava de férias, tinha ido viajar. A casa tinha adquirido duas prateleiras na cozinha, mais um fogão, mais dois banheiros, e mais um armário. E eu acabei indo para um quarto não tão legal, que me dava uma outra impressão da vivência aqui. A casa estava muito mais silenciosa, eu já não acordava mais com música ao vivo e com as vozes dos meus amigos ou do filho de Surama perguntando o tempo todo: “é o quê”? Mas uma coisa continuava a mesma, o vendedor de maracujá ( “o irmão”) continuava perguntando meu nome.
   Ao mesmo tempo em que percebia todas essas mudanças externas, começava a me questionar também se eu também não havia mudado... e acho que sim, muita coisa acho que se processou nesse tempo. Ainda não sei bem o que é, mas se processou... se tantas coisas podem mudar tanto e visivelmente em 1 mês e meio, quiçá 3 meses ( hoje completo exatamente 3 meses de viagem). Ainda mais nas condições que estou vivendo, de conhecer muitas pessoas, muitos lugares, culturas diferentes, etc. Ao mesmo tempo foi um grande impacto ter saído daquele ambiente de trabalho tão intenso e tão propício para o mesmo. Eu sabia que isso seria difícil. Eu me acostumei naquele ritmo de criação e ensaios diários, onde eu simplesmente saía do meu quarto, descia as escadas e já tinha uma sala de ensaio a minha espera. Eu fico apreendida de deixar as rédeas frouxas ou de não conseguir uma maneira de mantê-las aqui. Sabia que seria algo a enfrentar a questão de agora estar por mim mesma, ter que batalhar um espaço pra ensaiar, e criar uma rotina de forma a não deixar perder a estrutura da cena que comecei a criar lá. Lá eu tinha ajuda de pessoas para criar e um espaço, e que aqui tenho que  batalhar por isso. De qualquer forma não estou totalmente desamparada, pois tive a sorte de conhecer aqui uma amiga que também é do teatro e com a qual fiz belas trocas. Trocamos treinamento de ator e ela me ensinou mais um pouco do cavalo-marinho. Com relação ao espaço também tive a sorte de conhecer o “Casarão Peleja”, espaço de um grupo de teatro daqui, que tem uma sala de trabalho na esquina da “Casa de Hilton”. Pude ensaiar um pouco a cena que tive que  criar para a Colômbia em troca das minhas massagens. Mas essa minha amiga vai embora daqui há uns dias. E apesar de toda essa sorte, óbvio que as coisas não são do mesmo jeito. Fora que agora tenho sentido saudades de TODO mundo. Desse pessoal todo que se foi, (ou irá em breve), de todo meu povo do Sul, e mais meu povo da Colômbia. Gozado que quanto mais conhecemos pessoas, mais nosso coração vai se enchendo de saudades...
Meu professor de música da Colômbia,  me disse olhando fundo nos meus olhos: - Luana, os encontros são eternos.
E é isso que sinto, mesmo quando eles são efêmeros...
Também tudo isso me fez sentir a transitoriedade da vida e também a constatação de uma frase que uma vez ouvi, mas que não lembro de quem é, mas ela diz:
“Nunca se nada duas vezes no mesmo rio”.
E isso acontece, pois na verdade, o rio nunca é mesmo...


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